sábado, 17 de setembro de 2011

Crer ou não crer em Deus

Às vezes ponho-me a pensar na existência ou não existência de Deus. Ao fim de muito pensar, chego sempre à mesma conclusão, que é uma dúvida perpétua. Dizem-me que é preciso ter fé, mas a fé é um conceito muito difuso que não me ajuda em nada, bem pelo contrário. Aliás, suponho que o nascimento de qualquer religião tem origem no mistério que rodeou o homem quando este se pôs a interrogar o mundo que o rodeava. Não tendo resposta para as suas interrogações, inventou um ser superior a que só se tinha "acesso" através da fé. Mas há uma coisa que me perturba imenso e que me leva a pôr em dúvida a existência de Deus. É quando os ministros da igreja nos dizem que Deus criou o homem à sua imagem e semelhança. Ora, isto parecer-me um grande dislate. A ser assim, Deus seria um ser imperfeito, tão imperfeito como o homem que ele próprio criou.




Isto são apenas questões ingénuas talvez, por isso creio e não creio na existência de Deus, sou o que se chama um agnóstico.

terça-feira, 24 de maio de 2011

A paz e a guerra

Parece que nem toda a gente gosta da paz e prefe a guerra. Lá terão as suas razões, que só eles entenderão.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

A Viagem ao Colo da Mãe

A casa do Avô ficava longe daqui, no sumiço da tanta distância. Muito para além do pinhal do Mudo e do poço do Grilo, muito perto ainda onde a gente morava. A casa do Avô era ainda muito para além do valado do Mole e da silveira grande junto ao caminho. Depois, a gente passava na resteva da Maria Grila e na do Perdigão, bem antes ainda de atravessarmos o Pinhal Alto. Eu espremia os olhos por aí adiante e a casa não se avistava ainda. Mas podia reparar na casa de Manuel Manco, de um lado, e na vinha do Avô, do outro, a vinha do Nocreto encostada ao poisio do Calabarto.
Lembro-me ainda bem de ir ao colo da mãe, ou às cavalitas do pai, quando eles iam a casa do Avô, fazer não sei o quê, que era sempre ao fechar da noite, isso recordo eu muito bem. Penso, e não me engano, que era quando a avó cozia a broa. Calhava ser nesse dia. Mas era sempre muito longe o caminho a fazer, que era por carreiros de terra batida, por tão muito pisados por miles de pés, que seguiam sempre encostados às valas de enxugo.

Idalécio Cação
(in O Sítio da Casa do Avô)

Rumores da Natureza - 1

Dizia assim o Pássaro Azul, pousado num ramo do pinheiro. Andou chilreteando, a saltitar de galho em galho, no bosque matinal. Dizia assim, mas só pensado para ele, em gorgeios do mais fino metal. Se não fossem estes pinheiros floridos, e as giestas em fogo, eu não estaria aqui a cantar as minhas palavras, neste arroubo de luz. E ledo estou, e tão feliz, no oiro desta manhã, no perfume das dunas. Passa esta brisa sem rumo, macia e breve, e podia deter-se um momento que fosse, apenas o pingo dum instante.
Parasse ela, e ouviria enlevada os sons que me chegam do bosque, estas harmonias serenas, a caruma a cair dos pinheiros, leve e leve, filiforme, a suspender-se, quase invisível. Mas não. A brisa sem pressa há-de seguir sempre, sem nem um rumor, dedilhando ramos e flores silvestres, como se fora um sorriso de Pã. E levanta-se o sol, irrompendo por entre a calma da manhã, e há uns leves flocos de algodão que o escondem por vezes do meu olhar. Não será bem o sol, é talvez um balão colorido que alguma criança, ou um anjo descuidoso, acendeu nos confins lá do céu. E até a brisa nem será mesmo a brisa, é a natureza e o seu respirar, acorda na manhã deste Maio de luz, é o morno bocejo de quem desperta devagar.
Dizia assim o Pássaro Azul, que chilrreteia de galho em galho, aos upos e upos. E tão luminoso é o Pássaro Azul! Se eu fosse a Borboleta Lilaz, havia de pousar nas pétalas das flores transparentes, e tão ligeira que mal poderia com o sopro do pólen e se ruboriza. Voaria na luz da manhã, sereníssima e vária, sem nem um rumor, nem flébil vontade, doidejando acasos de luz, e muito sensual. Eu invejo a Borboleta Lilaz, que voa e voa, e também a Joaninha Sarapinta dos campos.
Dizia assim o Pássaro Azul, cansado talvez de chilretear em cada seu canto do bosque, e mais vai acordar o silêncio da manhã, estremece-a de mil e tantas maravilhas sonoras, e do azul das asas, e dos gorjeios saltitados e puros. Gostaria que saíssem agora das locas e luras os bichos ainda adormecidos: a Raposa Matreira e o Porco Montês, o Coelhinho Inocente, que às vezes deambulam a medo na floresta, e tão cautos e tão recolhidos, e tão em silêncio, que nem hão-de magoar o musgo do chão.

Idalécio Cação





segunda-feira, 9 de maio de 2011

O Amor











O amor é como a água,
Não se cansa de correr;
É cura de toda a mágoa,
Fonte de todo o prazer.

Idalécio Cação